quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Bicho gente, seu valor - Jornal A Tarde (Coluna Opinião)

Pessoa alguma vai colocar em dúvida, sob o crivo do bom senso, que a vida precisa ser preservada, protegida nas suas mais variadas manifestações, inclusive a humana. Estamos, no entanto, vendo que a vida humana está cada vez menos valorizada, na bolsa da proteção e do respeito, por uma crescente maioria de congêneres. Não falo do aumento da violência, tampouco da banalização do crime. Não. Reporto-me à pouca importância que se registra diante de uma morte humana, em contraponto com a de muitos animais, que, realmente, merecem ser protegidos. Mas precisamos urgente de ONGs que defendam o bicho gente. Sei que há inúmeras organizações nesse mister, porém eu não entendo episódios como o de Vítor Suarez Cunha que foi espancado na madrugada do dia 2 último, ao tentar defender um mendigo que estava sendo agredido. Os médicos usaram 63 parafusos de titânio no rosto quase esfacelado do jovem, dada a brutalidade usada por cinco rapazes que o massacraram pela sua coragem cidadã.

Sites e jornais noticiaram, mas não se viu a manifestação popular de aplauso, de reconhecimento desse herói da vida humana. Onde visita a ele de órgãos de direitos humanos? Onde fotos com autoridades? Onde redes sociais o proclamando com denodo? Onde programas de televisão? Talvez nada ou pouco aconteceu por um único motivo: o mendigo era gente e à margem do mundo burguês.

A solidariedade repercussiva que aconteceu com evidência foi a do soldado Yuri Ribeiro, da Força Aérea Brasileira (FAB), que usou da internet para prestar solidariedade a amigos responsáveis pelo espancamento do estudante Vítor. Disse ainda pela rede social que, se estivesse no momento do espancamento, o estudante não teria ficado vivo. A FAB foi pronta e justa, expulsou o soldado em processo administrativo sumário. Não tinha o perfil para os quadros das Forças Armadas.

Ao rever Nietzsche em suas ilações, vê-se que ele sempre defendeu a afirmação de que o homem é definido como um animal que está em constante evolução. Ouso-me: em aprimoramento de seus métodos de valoração equivocada do que não é ser.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

Um comentário:

NEIDE PS disse...

Eu nem vou usar a palavra heroísmo, talvez não seja o termo correto. Mas que orgulho para esses pais (apesar do desespero que passaram com seu filho), esses cumpriram sua tarefa de educar. Esse rapaz tão jovem e tão cheio de valores. É inegável como este rapaz carrega seus valores humanos, sem nenhuma intenção, exemplo de respeito ao seu semelhante. Em direção oposta, temos outro jovem, atitudes totalmente opostas. Pergunto-me, onde está a falha? Na família, na sociedade. Alguém errou, além de punições, o que mais precisamos fazer para mudar tal situação? Precisamos rever melhor, pois somente punir não vai resolver e nem mudar este quadro.
Li a entrevista no G1. "Agora só quero comer hambúrguer, ficar na internet e ver televisão" foram às palavras de Vitor ao sair do hospital, ele poderia pedir justiça ou coisa parecida. Não se acha herói...,
"O que a gente pode fazer hoje, amanhã vai mudar. Hoje aconteceu isso comigo. Pelo menos uma, duas, três pessoas vão pensar alguma coisa, vão ensinar para os filhos deles. Não adianta pensar que uma atitude vai mudar o mundo, mas pequenas coisas vão mudando"(segundo li no G1/declaração de Vítor).
Aí você pensa num menino de 21 anos, declarando essas coisas. A gente até pensa na possibilidade ser "mãe"...
Estava eu hoje na escola onde trabalho, discutindo com outras amigas (mães) sobre a difícil tarefa de educar um filho (a), nos dias de hoje. Eu ainda posicionei-me dizendo, que apesar de não ser mãe, não sei se eu encararia a tarefa de ter um filho, depois de todos levantarem tantas dúvidas, sobre o assunto. E quando nos deparamos com exemplos, como deste jovem, nos leva a acreditar que é possível se educar um filho com valores, atitudes dignas de ser humano. É verdade, meio mundo não tá nem aí, mesmo assim vale à pena juntar-se pelo melhor. E o melhor é a dignidade, a sensibilidade, o amor incondicional, é ver-se no outro, é enxergar seu ente querido no outro, é tudo isso... É ter, ser, existir, transmitir... Amor, sempre.
Vou tirar uma cópia do texto do G1, vai ser tema da minha próxima reunião com os pais dos meus alunos (vale a pena ser comentado), o que é educar um filho, baseando-se no amor e respeito ao próximo... O que é respeito a vida...


Medrado, vi sua foto no facebook , você emagreceu, de verdade. Mas, mesmo "gordinho", pra mim você estava lindo...Um gato de cabelos grisalhos...RS RS RS. Senti saudades de você durante este carnaval.
Beijos no coração... Jesus te ilumine, que ele possa transmitir todo amor e carinho.
NEIDE PS