País de Hipocrisia
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde -
28/05/2014)
O Brasil se evidencia como um
país liberal no campo do respeito à liberdade de ser, desde questões por cor da
pele, passando pela orientação sexual, até a escolha da religião, como se tudo
fosse aceito, normal. Vê-se no entanto que tudo isso é discurso, pois a
realidade demonstra que somos um país de preconceituosos e dissimulados,
posamos de politicamente corretos, mas, no dia a dia, a prática toma outro
rumo. Impera a hipocrisia. No começo do presente século, o Dr. Doudou Diène,
relator especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU, em pesquisa no Brasil,
incluindo Salvador, afirmou que o Brasil estava cada dia mais preconceituoso,
como se o possível clima de liberdade e desrespeito às leis estivesse
estimulando as pessoas a se revelarem.
Duvidei, porém recentemente, mais
atento, vi a realidade desse crescimento: um juiz segundo a sua definição
afirmou que o candomblé e a umbanda não são religiões. Voltou atrás. Faz pouco
uma senhora veio a mim e registrou o seu protesto, afirmando que eu brincava
muito, que precisava levar mais a sério as coisas da espiritualidade. Sorri e
ouvi as suas ponderações ilustradas com exemplos, e ao término me perguntou,
como se convencida de que teria resgatado uma alma do purgatório: “E então?” Ao
que disse: “Senhora, permita-me discordar, mas o alegre nunca foi ausência de
seriedade, muito riso não significa pouco siso, e sabe de uma coisa, permita-me
a imodéstia, mas eu procuro fazer algo pelas pessoas e a sociedade, e a
senhora, séria, austera, faz o quê? Não me respondeu.
As pessoas pedem pelo
dissimulado, pela palavra fácil, sem análise do seu entorno e em tudo isso
vemos ideias pré-definidas de que um religioso não pode ser alegre, que os
negros são possíveis bandidos e “justificam” atitudes racistas, que os
homossexuais são promíscuos, que o candomblé faz o mal... As pessoas prosseguem
sem revisar seu conteúdo de preconceito e não se dão conta que estamos no
século XXI.
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