quarta-feira, 2 de maio de 2012

Religião e as leis - Jornal A Tarde (Coluna Opinião)

Caro leitor, entendo que quando falamos da laicidade do Brasil não nos reportamos pura e simplesmente a um Estado sem uma religião oficial. Absolutamente. O conceito se torna amplo e irrestrito, principalmente em uma democracia. Dessa forma, a vivência efetiva dessa laicidade se impõe através de uma subordinação à soberania da diversidade de crença ou ausência dela de sua população. A nossa constituição vaticina que todos nós, brasileiros, somos iguais perante as leis. É verdade, no entanto, que a prática não espelha tal assertiva, razão pela qual não poderemos descuidar da busca pelo fortalecimento desse estado democrático de direito, através de uma valorização dos direitos cidadãos, de forma intransigente. 

Nessa esteira de raciocínio, mesmo como líder religioso, não poderei me arvorar a impor o meu edifício doutrinário como paradigma para as legislações do meu País, pois ele é produto da minha crença, que pode não ser necessariamente comprovável, senão pelos valores subjetivos do meu sentir. Caberá, entendo, aos que me buscam em minha casa religiosa, ou nos veículos em que posso veicular as ponderações que julgo pertinentes lançar, expor os meus juízos de valores, dentro das minhas concepções, sem guardar, no entanto, qualquer jactância de que possuo a verdade, pois ela sempre será relativizada ao meu banco de dados comprováveis ou não. 

É certo, também, que a democracia nos favorece à livre expressão do nosso pensamento, bem como as pressões sociais que julgarmos de grande valor político, sem, no entanto, querer sufocar ou satanizar o direito dos outros, inclusive de não crer, dentro de um cenário de discussão sobre qualquer assunto de interesse de todos os cidadãos de uma nação. Vejo, então, com naturalidade atitudes do Judiciário brasileiro que aparentemente poderiam ferir meus princípios de crença. O favorecer não significa, obrigatoriamente, que virará lugar comum, pois tudo continuará pela ordem das consciências humanas e dos valores de entendimento de cada cidadão no seu inalienável direito de ser e conduzir sua vida.

Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

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