quarta-feira, 29 de junho de 2011

TERRA DE NINGUÉM - Jornal A Tarde (Coluna Opinião)

É certo afirmar, dizem muitos antropólogos, que a humanidade, após o aparecimento do homo sapiens, até o presente, apenas conheceu uma única revolução, por ela mesma realizada: aquela que transformou a sociabilidade das hordas e das tribos em sociedade política (a polis), transformando a societas em civitas, que deu origem a expressão e sentimento de cidadania. Vemos, no entanto, que parece estar havendo, à minha leitura, uma inversão dessas conquistas ou, quando não, uma espécie de apropriação individualista do coletivo, por parte de muitos.

Atropela-se à nossa frente toda sorte de inversão de valores: motoristas mal-educados se dão à preguiça de dar seta ao mudar de faixa e, reclamados, se permitem verbalizar o que aprenderam como defesa dos sem argumentos; cães bravos e estressados soltos nas praias atacando transeuntes, que, ao reclamar, ouvem como deboche que não mordem, depois de terem assustado e estressado a quem foi relaxar em um lugar público de proibida permanência de animais; vizinhos que não se dão limites ao seus duvidosos gostos musicais, colocando o som alto e impondo a todos a intensidade de sua fúria, se chamados a atenção; muitos políticos que não mais acobertam a quem defendem, deixando às escancaras a defesa de grupo e segmentos, mas que não declararam nada em palanque, pedem votos de todos, mas legislam aos que interessam.
Lembre-se agora, leitor, de seus testemunhos. Estamos em uma sociedade que está se perdendo em seu roteiro civilizatório, fazendo-nos vislumbrar uma terra de ninguém, onde o que vale é bestialidade, imposição de um individualismo infame. Não falo aqui de solidariedade ou que tais. Falo de se viver no respeito aos princípios que devem nortear a vida em sociedade, em direitos iguais no exercício da cidadania, pelas calçadas e ruas esburacadas de nossa Salvador.

Não coaduno com os religiosos que falam de apocalipse, transição de planeta, fim de mundo. Nada disso. O que vemos é um vale-tudo que se tornou o viver em nossa cidade, por total impunidade, certeza que estimula aos que precisam ser punidos para aprender.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

quarta-feira, 22 de junho de 2011

INTERESSE EM DECLÍNIO - Jornal A Tarde (Coluna Religião)

Temos, na Cidade da Luz, desenvolvido um trabalho direcionado para a captação e engajamento de jovens no trabalho doutrinário espírita. Alguns têm realmente se envolvido, comprometendo-se até sob algum aspecto surpreendentemente, pois não se trata de jovens sem opções sociais de vida. Não. São universitários, bonitos, cheios de datas de baladas na agenda, de “ficação” permanente. Realço tal forma de vivência para enfatizar que são jovens comuns, guardando seus sonhos, vivendo seu tempo. Infelizmente, no entanto, não é isso que se vê por aí afora, lamentavelmente.

Os jovens, na Casa Espírita, não são colocados como protagonistas, mas coadjuvantes em ações que não mais condizem com o perfil da juventude do século XXI. Esperam que eles façam teatrinhos, jograis... tudo que a juventude da minha época, no máximo conseguia fazer, e até hoje os dirigentes espíritas querem que só isso eles façam. Bobagens. Precisamos oferecer a condução das nossas Casas, a partir de uma preparação que nasce do dia a dia das realizações de tarefas realmente doutrinárias. Penso que é falta de discernimento imaginar que os nossos jovens só querem fazer entretenimentos, e muitas vezes os oferecidos são tão bobinhos que os irritam, não querendo sequer frequentar o Centro, quanto mais participar de suas atividades.

Não vejo as Federações Espíritas desenvolvendo trabalho algum para trazer esses jovens. Continua a mesma historinha de sempre, curso para evangelizador, juventudes espíritas... Os tempos mudaram, essa garotada quer fazer algo interessante, ter responsabilidade de condução, de liderança. É claro, alguém poderá dizer, “no meu Centro” os jovens estão engajados, mas não são, seguramente, os que chegaram e ficaram, mas sim, e olhe lá, os filhos dos espíritas, mesmo assim a minoria. Nem mesmo os espíritas estão conseguindo levar seus filhos aos centros. Ou estou enganado?

Também, tenha paciência as práticas são as mesmas das décadas de 70, ultrapassadas, sem arejamento moderno. Está difícil um adulto aguentar, quanto mais a garotada jovem.

Entendo como falta de visão este apego de alguns “antigos” no movimento espírita às suas posições, sem preparar sua juventude para a sucessão, o medo da “aposentadoria” está levando à momentânea estagnação, falta de renovação atual para, logo mais, sem dúvida, chegar à extinção. Isso mesmo, fim do movimento espírita por falta de quem o leve adiante. Falo da sua pujança, pois ele continuará timidamente, afinal de contas, já está.

O movimento espírita está na contra mão dos filmes sobre Chico e dos demais que evidenciam um interesse mundial sobre o tema, pois não tem demonstrado competência para atrair essa gente que está cheia de dúvida, pois se acham os sabedores de tudo, e teoria até que têm muito, mas vivem uma falta absoluta de criatividade e inovação. Lamentável teimosia em modernizar.

JOSÉ MEDRADO / MÉDIUM, FUNDADOR E PRESIDENTE DA CIDADE DA LUZ

quarta-feira, 15 de junho de 2011

DITADURA RELIGIOSA - Jornal A Tarde - Coluna Opinião

Ainda que pesem perseguições inter-religiosas até hoje, é sabido que o Brasil tem uma profissão de fé laica desde o Império. A Carta Magna de 1824 estabeleceu a liberdade de crença, mantendo a religião oficial. Veremos ainda que, após a proclamação da República, é editado um decreto, sob orientação de Rui Barbosa, em 1890, que estabeleceu a liberdade de culto e reconheceu a personalidade jurídica das confissões religiosas, mantendo, no entanto, a igreja oficial. Já a Constituição Republicana em 1891 separou definitivamente a Igreja do Estado, e a de 1988 manteve e aprimorou a liberdade de crença.

Vivemos, certamente, em um Estado democrático de direito, expressão tão decantada em discursos políticos e artigos de orientação constitucionalista, porém é natural percebermos uma preocupação generalizada pela crescente onda de busca de poder por parte de segmentos religiosos. Buscam pautar a agenda do Congresso e da Presidência da República aos seus interesses, querem interferir, por princípios de fé, no comportamento de uma nação que é de todos, inclusive de ateus.

É certo que em um país democrático o princípio da livre manifestação e expressão de opinião é constitucional, mas também o é o da dignidade da pessoa humana. Não podemos, assim, desconhecer a realidade, e, se ela existe, as consequências têm de ser reguladas no mundo do Direito, independentemente de concordarmos ou não, em decorrência da nossa crença ou religião. É sumamente importante, se queremos ser vistos como um país civilizado, o combate de todas as formas de preconceito e de luta por uma sociedade na qual não haja qualquer discriminação, como determina a Constituição. Luta difícil, mas só se concretizará com o esforço de todos.

Alguns religiosos, e dentre estes muitos se colocam enraivecidamente, e, a pretexto de liberdade de expressão, enxovalham, demonizam o que precisa ser instituído para gerar segurança jurídica, em uma sociedade que precisa avançar na busca de direitos iguais a todos, e dar esse direito, entendo, é também ser cristão, vejo assim também como religioso.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

quarta-feira, 8 de junho de 2011

ESPIRITISMO CIDADÃO - Jornal A Tarde - Coluna Religião

Estou tendo um grave problema de intolerância a muitos dos meus “companheiros” espíritas, pois tem me faltado paciência para ler ou mesmo ouvir os “santos” aqui na Terra. Kardec foi contra o proselitismo, afirmando, inclusive que convicção não se impõe, porém continuamos vendo a mesma prática teórica proselitista de sempre. São os donos da verdade. Quando escrevem, usam o tom da doutrinação, tentando convencer o leitor de que aquilo que dizem é uma verdade que não pode ser discutida, nem questionada, mas sempre seguida, sob pena de se ir para o Umbral ou estar sob forte interferência espiritual negativa. Não suscitam o embate de ideias, tampouco acham que podem ser negados em seus princípios e ou colocações. Guardam uma linguagem cheia de metáforas de medo, sem renovação que os tempos atuais exigem. Quando falam, bem acentua o jornalista Wilson Garcia, “...usam de inflexões estudadas, têm a voz melíflua, dão a idéia de santificação, muitas vezes copiam oradores famosos, fingem humildade que não possuem. Tudo isso para impressionar.”.

Os novos tempos estão aí, não os das tais crianças índigos, blus, reds ou sei lá mais o quê, tampouco de transições espetaculares de mundo de provas e expiações para o de regeneração. Não! Não! Tolices puras, pois o urgente e necessário é o mundo do dia-a-dia que bate em nossas portas, solicitando ajuste de emprego na divulgação espírita para algo mais abrangente e real: espiritismo cidadão.

Não poderemos mais, penso, ficar no falar emproado das questões subjetivas da vida etérea. Façamos o necessário agora que o espiritual estará inserido, sem necessidade de borogodós que não mais impressionam como já impressionaram, ainda que muitos se sentem ainda empolgados com tais discursos, que não levam a coisa alguma.

Precisamos de uma concepção de educação espírita que nos leve a uma leitura do mundo e da palavra, em que cada pessoa possa dizer sua palavra. Palavra que nasce da compreensão e uso do conhecimento produzido na religião, nas ciências, nas artes e da compreensão cotidiana da vida.

O Espiritismo precisa trabalhar uma divulgação com a prática social, mas também com conceitos libertadores, transformadores do mundo, não para a santificação que pessoa alguma busca, até mesmo as que pregam tanto o amor, mas na intimidade de suas vidas são lobos travestidos de cordeiros.

O Espiritismo precisa cumprir um papel político transformador, não no sentido de púlpito partidário, mas de despertar consciência aos compromissos com a educação cidadã, que vise à demonstração de que evoluir é também cuidar do meio-ambiente, ter educação no trânsito, respeitar vagas de deficientes e idosos nos shoppings e por aí vai. Fazer com que o espírita de amanhã seja um comprometido com o verdadeiro ideal comum, em todos os níveis e processos de vivência na sociedade.

JOSÉ MEDRADO/MÉDIUM, FUNDADOR E PRESIDENTE DA CIDADE DA LUZ

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Considerações de Frei Carlos Murion, mentor espiritual da nossa Casa, sobre a força e o poder que a palavra tem

Considerações que me foram passadas pelo amorável Frei Carlos Murion, um dos mentores espirituais da nossa Instituição e discípulo de Francisco de Assis, nos momentos que antecederam a palestra do dia 31 de maio (2011), na Cidade da Luz.

GOVERNO INADIMPLENTE - Jornal A Tarde - Coluna Opinião

A Cidade da Luz recebeu um telefonema do gabinete do decente secretário Fernando Schmidt me convidando para o lançamento, no Centro de Convenções, do programa Pacto pela Vida. Debruçando-me sobre o que, de fato, significava, vi que se trata de ações de segurança e inclusão social para reduzir a violência no Estado. “O Pacto pela Vida está baseado em uma parceria entre governo e população para criar uma cultura de paz na Bahia”.

Pois bem, é sabido que se entende por inclusão social uma série de ações, que visam à atenção de pessoas com necessidades especiais. Tornou-se efetiva a partir da Declaração de Salamanca, em 1994, respaldada pela Convenção dos Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos (1990). São ações em cadeia, porém me fixo no apoio e proteção à criança em todas as suas necessidades, desta forma vejo, permissa vênia, uma incongruência do Governo da Bahia, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, uma vez que se lançará um programa de grande vulto, mas os abrigos de Salvador, que recebem crianças não apenas órfãs, mas também em risco social, que muitas vezes são tiradas de seus meios familiares por força da violência de todos os matizes e direção que sofrem, não veem um só centavo do repasse obrigado por lei, do governo do estado, desde janeiro. São cinco meses em total desrespeito ao trabalho de manutenção e reinserção que as instituições fazem, com apoio desses recursos. A informação é de que em junho se fará o convênio com a prefeitura, quem faz o repasse, para só em julho pagar. Seguramente, não será feito o pagamento no total devido, ainda que muitos dos abrigos estejam com os pires nas mãos, folhas de pagamento atrasadas por total inadimplência do Governo do Estado da Bahia.

Penso que o Pacto pela Vida, importante, poderia começar pela vida desses pequenos deserdados da dignidade, que precisam viver com cuidados especiais, na busca de sua sobrevivência e condução cidadã com respeito.Nunca antes na história do Estado da Bahia, tal descaso fora visto. Estou certo que o Governador não sabe.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz