quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Meus conflitos democráticos

A construção da democracia brasileira, inegavelmente, é algo muito difícil, que se encontra em processo, pois, não havendo um modelo ajustado aos padrões da nossa sociedade, ela vai se auto-produzindo ao longo de sua caminhada, em decorrência das demandas do povo em busca de valores de igualdade, em toda a verticalidade de sua representação, para assim se fazer o seu fortalecimento. No seio de nossa sociedade, ainda claudica o respeito ao direito do contraditório de qualquer natureza, e aí nos deparamos com o choque de interesses individuais. É preciso, ainda que contrariados pontualmente, gerar um processo firme de politização das pessoas, incitado-as a deixar o vício da cidadania passiva e cordata, do individualismo de conveniência de todas as vertentes, para se tornarem pensadores e ativistas de conquista de valores coletivos, mesmo que contrários aos seus interesses imediatos.

Procurei estabelecer esta reflexão racional logo que vi a notícia da decisão unânime, do Supremo Tribunal Federal, que liberou a realização dos eventos chamados “marcha da maconha”, que reúnem manifestantes favoráveis à descriminalização da droga. Para os ministros, os direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento garantem a realização dessas marchas. Muitos ressaltaram que a liberdade de expressão e de manifestação somente pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais e iminentes.

Explicito aqui que, pessoalmente, sou contra a este resultado, pois entendo que portas se escancaram para que a sociedade prossiga em seu frenesi, cada vez maior, de busca de entorpecimentos e estímulos que, não raros, desembocam no aumento de estatísticas de violência, mortes e maior insegurança social. Mesmo contrariado em algum interesse aqui e ali desconsiderado, precisamos aprender a conviver com o pluralismo das ideias. Preciso defender o direito dos contrários ao meu entendimento, para que, no meu momento, estes direitos também sejam respeitados; que eu convença com as minhas ideias, jamais impeça a manifestação das dos outros.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Consciência negra, e aí? - jornal A Tarde (Coluna Religião)


No último dia 20 de novembro foi comemorado, oficialmente, pela primeira vez, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Até o início da década de 1970, a principal comemoração relativa ao fim da escravidão no Brasil era o 13 de Maio - data em que a Princesa Isabel assinou a chamada Lei Áurea, extinguindo oficialmente a escravidão. Em 1971, porém, em plena ditadura militar, um grupo de militantes negros do Rio Grande do Sul decidiu que a melhor data seria a da possível morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi morreu em combate, após comandar durante mais de uma década um movimento de resistência contra a escravidão. Chegou a reunir milhares de rebeldes no Quilombo dos Palmares, em Alagoas.

Cabe, portanto, a cada um de nós um processo de reflexão verdadeira acerca da nossa pessoal contribuição contra toda forma de discriminação racial, eivada, muitas vezes, por uma demagogia retórica que só serve para fazer coro com os politicamente corretos. Vamos lá à prática: Questione-se, por exemplo, você espírita, se em “seu” centro um escravo, preto velho ou que nome você quisesse dar a algum espírito que chegasse assim se identificando, querendo uma oportunidade de passar a sua sabedoria, qual seria a sua posição, atitude? Ou ainda precisa ser um espírito que embole a língua para insinuar, mistificar que é alemão ou algum outro “europeu”? Qual seria a sua reação se seu filho ou filha chegasse com um namorado(a) negro(a)? O contrário também caberia aqui, a fim de que não tenhamos a discriminação às avessas.

“Precisamos antecipar uma época em que as diferenças se estabeleçam somente pelas ações, sem qualquer consideração discriminatória de que origem for. Seja o mérito do fazer que gere o respeito, o destaque, a consideração”.

Vemos por aí que a ignorância grassa sob muitos aspectos, em total desconhecimento do valor humano, pelo humano, sem rótulo algum.

Apenas como realce do mérito foram e são negros: Garrett Morgan inventor do semáforo; Mark Dean - Ph.D. da Stanford University, projetor do computador pessoal; Patricia E. Bath - inventora da técnica da cirurgia de olho a laser; Frederick Jones inventor do ar-condicionado; Lee Burridge - inventor da máquina de escrever; Charles Drew - na década de 30, criador da técnica de armazenagem de sangue em bancos; William Hinton - inventor do teste para detectar a sífilis; Henry T. Sampson - inventor do telefone celular em 1971; J. Standard - inventor do refrigerador em 1891; Richard Spikes- inventor da mudança automática de marchas; Ernest E. Just - estudou a fertilização e a estrutura celular do ovo, dando ao mundo a primeira visão da arquitetura humana ao explicar como trabalham as células; Mark Dean -inventor do moderno computador; Lewis Howard Latimer -inventor do filamento de dentro da lâmpada elétrica; Daniel Hale Williams - executor da primeira cirurgia aberta de coração; Lloyd Quarteman - Físico, na equipe científica desenvolveu o primeiro reator nuclear na década de 1930. Pois é...

domingo, 20 de novembro de 2011

‎20.11 Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra

Zumbi é um dos mentores da Cidade da Luz, que desde o início do Centro sempre fora um dos guardiães da Casa, é dele a consideração: "Precisamos antecipar uma época em que as diferenças se estabeleçam somente pelas ações, sem qualquer consideração discriminatória de que origem for. Seja o mérito do fazer que gere o respeito, o destaque, o reconhecimento.". Cabe, portanto, a cada um de nós um processo de reflexão verdadeira acerca da nossa pessoal contribuição contra toda forma de discriminação racial, eivada, muitas vezes, por uma demagogia retórica que só serve para fazer coro com os " politicamente corretos".

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Por fim, uma reação - jornal A Tarde (Coluna Opinião)

Geralmente, caro leitor, escrevo sobre religião em coluna própria, no Caderno Populares aqui de A TARDE, mas não me contive, nesta oportunidade, após ler aqui mesmo, no último domingo, matéria sobre intolerância religiosa denunciada por um juiz de Sergipe. Chamou-me atenção porque foi uma reação de um magistrado espírita, frente a agressões perpetradas por um pároco católico que agride espíritas que frequentam a “sua” igreja.

Infelizmente, e me ressinto disto, o movimento espírita sempre foi muito omisso diante de ações cidadãs, que deveriam vislumbrar interesses coletivos, independentemente de questões religiosas ou mesmo a elas relacionadas. Nunca houve, que triste, uma palavra de repúdio à ditadura militar, muito menos uma ação concreta que evidenciasse algum rechaço àqueles que perseguiram, mataram tantos por uma ideologia falaciosa. Os líderes espíritas de então se encastelaram em seus medos, conveniências ou não sei o quê, mas não nos deram exemplos como os de D. Hélder Câmara , D. Pedro Casaldáliga e D. Evaristos Arns.

Documentos guardados há décadas em Genebra obtidos pelo Estado brasileiro revelam como o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, por exemplo, liderou um lobby internacional, coletou fundos de forma sigilosa e manteve encontros com líderes no exterior para alertar sobre as violações aos direitos humanos no Brasil. Orgulho para todos os brasileiros. Não me ocorre, infelizmente, reação alguma contra qualquer ação de interesse cidadão por parte das organizações ditas como oficiais do espiritismo no Brasil.

Nunca, por outro lado, também, uma palavra contra as perseguições encetadas às religiões de matriz africana. Muito pelo contrário, muitas vezes se aderia aos preconceitos e impediam entidades que transitavam nessa área frequentassem as fileiras espíritas. Assim, quando vi essa reação, exultei. Por fim, começam os espíritas a terem uma visão cidadã, fora da acomodada omissão de não se indispor com nada. Esse nunca foi, nem será o meu entendimento, pois não concebo valores cristãos sem passarem pelo direito cidadão de ser.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Reavaliação de conceitos jornal A Tarde (Coluna Religião)

Estamos vivendo um momento de reavaliação de conceitos e posições. A tão decantada globalização está aí, impondo-nos modernização de acesso a informações, fazendo com que a notícia se torne conhecida no seu exato acontecido.

As pessoas estão mais bem informadas e com o seu valor de crítica assumido, de forma tal que, sem sombra de dúvidas, mais do que nunca o Espiritismo se torna atual em sua proposição de ser uma fé de razão, raciocinada.

Não mais se aceitam, incontinente, as ditas “verdades” expostas por líderes, dirigentes e médiuns sem serem passadas pelo crivo do discernimento racional.

Tenho, por força do meu estilo pessoal de divulgar a doutrina espírita, permitam-me o exemplo, ouvido depoimentos dos mais variados sobre condutas e pontos doutrinários que o público em geral não mais aceita, pois lastreados em fantasias santarronas, em santificação de aparência...

O processo discursivo pragmático do homem do século XXI tem situado o mundo em revisão contextual em todos os níveis da ação social: conservadorismo de conceitos, sem respaldo nas obras de Kardec, mas nascido da velha e carcomida confusão que se faz entre moral e cultural; posições sectárias, que em nome do Cristianismo, ou da tal pureza doutrinária, segregam, discriminam; a presunção de se achar detentor de infalibilidade mediúnica... estão sendo expostas como pontos absurdos, que já começam a ser rechaçados com vigor, ainda que não explicitados aos seus praticantes.

Assim, cuidado, espíritas, não caiamos na vala comum das religiões dogmatizantes, que são desacreditadas e abandonadas pelos seus fiéis, por força do absurdo de suas esdrúxulas pregações.

Não venha ninguém, no entanto, dizer que não se preocupa com quantidade nas hostes espíritas, e sim qualidade. Absurdo! Em se tratando de uma religião que tem a proposta de consolar, como vamos ficar nas catacumbas de nossos preconceitos e pregações empoeiradas, se o mundo aí fora precisa entender a razão da dor, o motivo do sofrimento, o que somos em essência... Como ficarmos de braços cruzados em nossas Casas, quando tantos precisam de amparo? Ademais, seria ou não egoísmo: eu tenho a consolação, o esclarecimento e dar com os ombros quanto aos demais!?

Conheçamos, assim, as obras básicas da doutrina espirita, para não ficarmos dizendo bobagens do tipo: não se pode usar música no Centro, não se pode rir... Continuo pedindo que alguém me informe onde Kardec ou os espíritos da codificação proíbem tais práticas.

Necessário se faz que não venhamos a agir como algumas correntes evangélicas que simplesmente dizem que a Bíblia proíbe o Espiritismo e os seus fiéis creem sem questionar, simplesmente porque ouviram do pastor. É claro que a Bíblia jamais proibiu o Espiritismo, sobretudo porque a própria palavra é um neologismo criado por volta de 1857.

Opiniões de espíritos, através de médiuns de todos os tempos sempre serão pessoais, importantes, mas se avaliadas e aprovadas pela sensatez, pela razão. Isso porque só as obras de Kardec são e sempre serão as diretivas do nosso agir espírita.

José Medrado / médium, fundador e presidente da Cidade da Luz

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Educação Municipal - jornal A Tarde (Coluna Opinião)

A revista Veja desta semana traz uma extensa matéria sobre as melhores e piores cidades do País em situações várias. Chamou-me, no entanto, a atenção o item relacionado ao ensino básico. Infelizmente, duas das nossas Cidades estão entre as cinco piores do Brasil: Vitória da Conquista, em primeiro lugar e Feira de Santana no quarto.

É sabido que o Brasil ainda tem 14,1 milhões de analfabetos entre a população com mais de 15 anos, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Esse total de pessoas representa 9,7% da população. Desde 2004, quando o levantamento começou a ser realizado, a queda foi de apenas 1,8 ponto percentual.

Ouvimos que a educação é a solução para todos os problemas de um povo, o que é verdade. No entanto, a mobilização ainda é pífia diante da necessidade.

Conheço bem o processo, pois a Cidade da Luz tem uma escola, a Carlos Murion, onde, em parceria com a prefeitura, atendemos a cerca de 400 alunos. A prefeitura oferece os professores e tudo que municia a sua rede, mas fazemos questão de que a escola seja vista como da Cidade da Luz, pois em todas as salas colocamos aparelhos de ar-condicionado, incrementamos, quando necessário, o lanche, sem falar que oferecemos toda uma estrutura de apoio aos alunos e seus pais com as nossas ações sociais, desde médicos, dentistas, até apoio psicológico. O resultado é uma busca grande da comunidade para que seus filhos estudem nessa escola. Deduz-se, então, que, quando se oferece ensino de qualidade integral, a população corresponde.

Até o momento, temos tido uma boa parceria, ainda que ajustes sempre precisam ser feitos, aqui e ali, para não se descaracterizar um ideal institucional. Tenho sabido que, até o presente momento, o atual Secretário João Bacelar tem tido uma grande sensibilidade para com essas escolas que fazem parte da rede, mas não são necessariamente municipais, ainda que todo o seu corpo pessoal o seja, e pelo município é administrado, como é o caso da Carlos Murion. É uma atitude de comprometimento, pois, se o município que deveria ter musculatura funcional para uma educação integral, e não o tem, que se apóie francamente quem tenha.

José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz