domingo, 14 de junho de 2015

Cada dia pior
(14.06.2015)

Pois é, mais uma mãe de santo morreu de desgosto, que levou a um infarto, por conta de perseguição. Sabem quando este tipo de coisa vai acabar? Possivelmente nunca. Por um simples motivo: o segmento evangélico odioso é poderoso, há bancada com eles no Congresso. São fortes. Os políticos de plantão têm medo. Eles têm votos...é simples assim: fazem cara de paisagem, vêm a público condenam, repudiam...meros discursos. Esse pessoal evangélico, de certas correntes, claro, não atingindo a todos, contaminado pelo interesse de poder e dinheiro de muitos dos seus líderes ainda vão fazer, se as coisas continuarem como estão, barbáries maiores. Infelizmente o tempo vai mostrar.



quarta-feira, 10 de junho de 2015

Violência e ações
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 10.06.2015)

O governador da Bahia, Rui Costa, me convidou, ao lado de lideranças religiosas, de representantes da sociedade civil organizada, além do Comitê Executivo do Programa Pacto pela Vida, para discutirmos a segurança no estado. Vejo com grande simpatia esse interesse governamental, porém não posso me furtar, por um compromisso que trago de opinar, questionar, e até criticar, o que me chega de anseios individuais e de grupos, ainda que por isto se gerem incômodos e reações nada democráticas, por parte de alguns restritos gestores de visão apequenada, que, sensíveis a críticas, só querem elogios e aplausos. O que, pelo que me chega, não é o caso do governador.

Assim, essas discussões serão sempre oportunas e interessantes, quando se tratar de coleta de oitiva de quem está mais próximo do processo de violência e ou de suas consequências na comunidade. Nós, religiosos, por exemplo, somos convocados, não poucas vezes, a oferecer a nossa oitiva a mães e pais em desespero pela devastação de suas famílias por alguma forma de violência,
em depoimentos de dor, indignação e até revolta.

Combater a violência, penso, não é pelo enfrentamento com homens e armas, ainda que estes sejam importantes como fator psicológico de sinalização da presença do estado. A questão tem muitas desembocaduras. É importante, assim, que essas discussões gerem ações mais prontas, de mobilização da sociedade em sua base: os jovens. Diagnósticos são feitos, terapêuticas levantadas, mas caem na teorização acadêmica. Ações simples podem se tornar muito eficazes: efetiva movimentação nas escolas estaduais e municipais, por exemplo, para a sensibilização comas artes e esportes, mediante concursos, olimpíadas. Já se fala há muito, claro, que arte e esporte são culturas para paz, então! O que sinto é que ações práticas geralmente se esbarram na vontade política claudicante, pois, em verdade, já se sabe o necessário, só falta aplicar, ou pelo menos tenta, em ações acima de políticas pessoais.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Não é possível
(03.06.2015)

Não é possível que a sensibilidade desta propaganda, na retratação da realidade do mundo pós-moderno, ainda gere reações negativas, de um conservadorismo hipócrita, quando atacam o conteúdo deste comercial. Sei que a agência foi esperta, criou a polêmica para ampliar seu comercial, mas, em verdade, o que acontece é que a sociedade brasileira, em geral, é de valores paradoxais. Você pode não querer, até não aceitar, mas o fato é que o amor não é sentimento exclusivo desta ou daquela orientação sexual. Não é a orientação que gera a dignidade, mas a conduta, o comportamento e aí vale para todos... 




sexta-feira, 29 de maio de 2015

Leia e pense, se quiser
(29.05.2015)

Gosto de provocar as pessoas para pensarem, talvez pelo que curso de Filosofia que tenho, talvez por ter fundado uma instituição aos 17 anos, e agora com 54 já vi e ouvi dramas de todas as naturezas, ou simplesmente porque gosto de fazer gente pensar. Aprendi, assim, que toda proposição discursiva nasce de três princípios: tese (a ideia básica), antítese (fatos contrários) e a síntese (conclusão). Então, quando alguém lança uma tese, erramos, como interlocutores, se focarmos na pessoa emissora, porque aí entrará a antipatia (se temos algo contra o lançador), simpatia (quando o lançador nos é caro), pois e o ideal será sempre a empatia, no foco do fato. A empatia é se colocar no lugar do vivenciador da história. Em Filosofia é isto que se chama processo analítico, reflexivo de uma ideia. Infelizmente, em geral, metemos os pés pelas mãos e deixamos contaminar as nossas reflexões com o passional destas questões e não pautamos a razão para contextualizar o problema e gerar a empatia. É, em síntese, a máxima de Cristo “faça ao próximo o que gostaria que ele lhe fizesse”, pelo menos no possível, posto que o ideal de assim agir é complicado. Passaríamos a viver melhor conosco e com os que estão no nosso em torno se tivéssemos este cuidado. Vejo muito pelas redes sociais esta falta de critério nas discussões, aí imagino que na vida privada das pessoas deve ser até pior rs.


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Respeito e aceitação
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 27.05.2015)

O Instituto Beneficente Conceição Macedo teve uma inspirada ideia: em gesto de respeito, organizou um culto inter-religioso para abençoar transexuais que proclamariam para os presentes os seus nomes sociais. Claro que aceitei de pronto o convite, pois compreendo que não há como vivenciar qualquer fé sem respeito e fraternidade ao próximo, seja ele que orientação sexual, cor, ideologia tiver. Assim, no dia 19 último, fui ao centro cultural da Barroquinha para a celebração. Cheguei alguns minutos mais cedo e fui visitar o museu da Igreja de São Bento, espetacular. Ao sair pude presenciar uma transexual indo para o evento e um grupo de rapazes, na ladeira de acesso, tentar, jocosamente, ridicularizar a moça. 

Pus-me a questionar: como entender o porquê de as pessoas guardarem preconceitos com tanto rancor, raiva, a ponto de não aceitarem o outro porque foge aos seus padrões e convenções, sociais, familiares e/ou religiosos tidos como certos? Algumas pessoas já tinham me perguntado se realmente eu iria estar naquilo. Naquilo?! Naquilo o quê? No respeito à cidadania de quem quer ser o que de fato é, na coragem de assumir a sua identidade de alma? Se você não entende esses corações, respondia, tudo bem, até compreendo, mas respeite. Principalmente se a pessoa se diz religiosa, cristã... Cristo não discriminou, não excluiu. Ele trazia para perto. Fui e me emocionei com aquelas histórias de dor, de angústia, de busca de reconhecimento de suas identidades. 

Em uma sociedade que prima pela hipocrisia, no mínimo esses homens e mulheres deveriam ser reconhecidos pela coragem do encontro com a sua natureza e essência. O moral e o ético estão em ações e não em estética, em aparência, em discursos cheios de recalques e ignorância. Recentemente, a sociedade reagiu a um beijo lésbico na TV, mas não, em geral, se manifestou diante de cenas de corrupção, assassínio que a mesma novela patrocinou. Vá entender esta sociedade que aceita a bandidagem, mas repudia um gesto de amor.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Perseguições de sempre
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 13.05.2015)

A Cidade da Luz tem recebido algumas homenagens, por força da dedicação de centenas de pessoas que por lá mourejam, mas na última quarta uma em especial falou ao meu coração, foi a Yom HaShoá, Dia da Lembrança do Holocausto. A Sociedade Israelita da Bahia, através do seu presidente, Luciano Fingergut, e do rabino Uri Lam, me honrou e a Cidade da Luz com a distinção “Instituição de expressiva atividade na área de justiça social”, simbolizada com a plantação de árvores no Bosque Brasil, região de Modiin, em Israel, com o nome da Cidade da Luz e o meu. Essas mudas representam quem atua na área social e que, portanto, luta pela vida através da dedicação aos menos favorecidos.

A emoção me dominou, principalmente quando, em ato simbólico, alguns representantes da comunidade judaica baiana eram chamados para acender uma das velas representando os seis milhões de judeus assassinados durante a segunda guerra mundial e transbordou quando o Sr. Peter Ungar veio acender uma delas. Fui, então, informado que aquele senhor era o único sobrevivente na Bahia de tal sanha. Relembrei que tais mortes por perseguição aos judeus somam duas vezes a população de Salvador, além de ciganos, homossexuais e portadores de necessidades especiais.

A reflexão do Yom HaShoá deve ser algo permanente em nossos dias, pois o fundamentalismo ideológico de toda natureza é sempre perverso e busca o caminho do extermínio aos que se tornam contrapontos a ideias alienantes, diversas daquelas que grupo ou pessoas defendem. É preciso atenção e cuidado diante do que vemos nessa direção em nosso país, onde ainda o candomblé é achacado e perseguido, homossexuais abatidos e pessoas com necessidades especiais estigmatizadas. São direitos violados por incitação, ora religiosa, ora preconceituosa ou por interação de ambas, geralmente com a complacência da sociedade, que não reage, pois não são os seus interesses e/ou posição incomodados.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Pesos diferentes
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 29.04.2015)

Circulou no último domingo, por alguns sites de notícias, que uma organização ligada ao ex-deputado Luiz Argolo, preso pela Operação Lava Jato, captou, via Lei Rouanet, do governo federal, R$ 2,1 milhões de estatais e empresas privadas para a realização de festas juninas no interior da Bahia. Seria para o denominado Transbaião, que tinha como objetivo viagens em um “trem cultural” para convidados “vips” do ex-deputado. O ex-ministro Lupi disse que o PT roubou demais, ou seja, há medidas para o roubo.

Pois é, vejo esgoto a céu aberto e fico me perguntando onde estão os controles desses fundos? Isso porque vejo na Cidade da Luz, quando de suas prestações de contas – e é bom que seja assim –, um elenco de comprovações
que deixaria Hércules aliviado com os seus 12 trabalhos, Ulisses acharia fichinha a sua odisseia e Dante tomaria como exemplo o nosso périplo. E não falo aqui de dezenas de milhares de reais, não. Falo de, por exemplo, R$ 15 mil por mês, que é do único convênio que temos com o estado. É um tal de se mandarem fotos do que se fez, fichas de inscrição, nomes, assinaturas em lista de presença... E sempre falta algo. Vestais surgem com as suas explicações. De outro lado, no entanto, certos políticos “filantropos” e/ou de algumas ONGs têm tudo tão fácil, milhões em convênio, para trabalhos cheios de controvérsias. Quem entende?!

É fato: nós, que dirigimos instituições sérias, que guardamos a realização do bem apenas por ideal, sem qualquer busca de vantagem e votos, lutamos com tantas dificuldades. A mim me parece que certos segmentos públicos guardam a filosofia do “vamos dificultar para os que não temos interesses, para ver se desistem”, mas me apoio no que é atribuído a santo Agostinho, quando proclama que a esperança tem duas filhas, a indignação e a coragem: a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão e a coragem, a mudá-las. Talvez esteja também aí o bom combate a que Paulo de Tarso se referia, no perseverar de um ideal.