quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Claro: é Natal
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 24.12.2014)

Estava em um culto inter-religioso no Tribunal de Contas do Estado, em ação digna de ser seguida por gestores públicos,quando o meu amigo Inaldo Paixão, presidente da Casa, exortou de forma verdadeira a todos ao amor. Momentos antes, amigos celebrantes fizeram alusão ao meu último artigo aqui neste prestigioso espaço, agregando compreensão de que realmente as repartições públicas não podem ser púlpito de proselitismo de uma única religião. A prefeitura de Salvador inclusive também falha neste sentido. Pessoas de má-fé, poucas, se posicionaram que eu era contra missa, mas os de sentimentos cristãos ponderaram pela sensatez.

Mas voltando ao conselheiro Inaldo, naquele momento me perguntei: O que se pode falar sobre o Natal sem ser piegas, nem se apoiar em demagogia religiosa? Condenar o consumismo, mas que só a boca fala, porquanto o bolso se abre? Não. Faz parte. Censurar as mesas lautas, as casas enfeitadas? Penso que não, é tradição. Já sei, falar do autoperdão, do autoamor.

O perdão que oferecemos a nós mesmos, para que não fiquemos presos a um momento de insensatez, que pode ter levado a vida a um turbilhão de consequências horríveis. Assumi,sim, as consequências, mas seguir adiante na tentativa de ser melhor. O autoamor, que nada tem a ver com egoísmo, é proposta de Cristo "amar o próximo como a si mesmo", ou seja, a condição de amar o outro é de se amar, buscando seus sonhos, realizações, compreendendo que pessoa ou coisa alguma faz alguém feliz. A felicidade é obra pessoal, sobre você, pois só assim será real.

Assim, penso que Natal é tudo isto: presente, confraternização, ceias, mas também compreensão de começar a fazer o seu melhor, para ser melhor. Jesus nos deu o ideal, mas vamos no possível das nossas condições humanas.

Feliz Natal às vezes me parece apenas pró-forma, sem conteúdo, mas se ele implica em ser mais humano, justo, reconhecendo sua humanidade e limitações, mas sem perder a meta de possível paz... Desejo a todos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Gestores Públicos
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 10.12.2014)

Mais um ano chega ao final, as comemorações surgem por todos os lados. As confraternizações espocam em empresas privadas e públicas, muitas, nem sempre, com real sentido, mas isto é uma outra questão. Quero, no entanto, aqui, falar da laicidade do Brasil, onde desde o advento da Constituição Federal de 1988 não há mais uma religião oficial do Estado. Causa-me, consequentemente, estranheza e espanto ao ver por aí afora órgãos públicos encerrando suas atividades, ou se confraternizando com os servidores em efemérides de final de ano com uma missa. 

Nada contra a missa em si, inclusive estou me programando para assistir a uma ministrada pelo meu pessoal amigo padre Luís Simões, da Vitória. Reporto-me às realizadas em órgãos públicos. Por obviedade, se é da União, e esta é laica, nada mais natural que o culto religioso seja geral, não o específico do seu gestor. Entendo que seja no mínimo uma velada imposição de crença, sem qualquer sentido cidadão.

Não me refiro de forma exclusiva à missa, repito, mas a qualquer manifestação religiosa que não seja ecumênica ou interreligiosa, como preferir o leitor, como forma de respeito a todas as crenças existentes no corpo funcional da empresa, como o próprio nome remete: pública. A confraternização cristã, entendo, nasce desde esse momento de escolha, em respeito pela diversidade.

Geralmente, os servidores são conduzidos a acompanhar as missas, mesmo não sendo católicos, em razão do receio de serem mal vistos, principalmente se ocupam cargos de confiança. Se não um culto comum, que se faça uma semana de confraternização, envolvendo todos os segmentos, cada um em seu dia, permitindo, assim, inclusive, que os ateus também se sintam à vontade para não ir à celebração alguma. Isso é democrático.

Vemos dessa forma que os gestores públicos ainda não entenderam que deve haver restrições às suas ações na condução do órgão, considerando que as empresas não são suas, particulares. Celebremos, ora, o plural.