Ocasião
e o ladrão
(Coluna Opinião Jornal A Tarde –
30/04/2014)
Além de tudo que por estas nossas
páginas diárias foi dito sobre a greve da PM, chamou-me a atenção o
arrombamento de várias lojas e supermercados que tiveram suas mercadorias
roubadas e saqueadas em diversas partes da cidade, desde bairros mais distantes
até os mais centrais. Curiosamente, o que se verificou foi que a preocupação
não estava no feijão, na carne, mas em aparelhos eletrônicos – depois postos à
venda na internet –, em caixas de cerveja e roupas.
Ora, não se pode dizer que as
ocorrências são de somenos importância, nem buscar explicações extraordinárias,
permissa vênia, como geralmente os estudiosos em antropologia e sociologia
fazem. Em verdade, é necessário que não se perca o conceito de crime. É certo,
todavia, que há os de maiores impactos e os de menores. Saques, arrombamentos
em momentos de greve ou caminhadas... são crimes e precisam ser apenados.
Não é por que um caminhão tombou que a
carga está ali e é de todos. O antropólogo Roberto DaMatta afirmou que a rua no
Brasil é de todos e ao mesmo tempo de ninguém, um lugar que só se move pela lei
na presença ostensiva das autoridades estatais. Ou seja, o povo, em geral, não
guarda respeito aos seus deveres civis, à sua obrigação cidadã, salvo quando
esteja vigiado. Alguma coisa está errada. Não é verdade que a ocasião faz o
ladrão, a ocasião revela o ladrão.
Uma sociedade se evidencia moral e
verticalmente enferma quando cada um exerce, à sua maneira, o que julga certo,
de acordo com a ocasião e as circunstâncias. A isso se chama de quase barbárie
e é o que estamos vendo no Estado brasileiro, em suas plagas.
Não é plausível que se desvalorize
socialmente o crime pelo seu poder de dano e ou de repercussão. Crime é crime,
o seu apenamento, aí, sim, será concernente aos aplicativos constantes nas
leis. São perigosas as manifestações com afirmativas do tipo: há coisas mais
importantes para a polícia investigar, para a justiça examinar... Isso gera um
clima de danosa licenciosidade.
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