quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Há poucos dias, acompanhei por muitos órgãos de imprensa a explicação que o presidente da Bolívia, Evo Morales, deu para o aumento líquido do seu patrimônio em 253% desde que chegou ao poder em 2006. Inegavelmente, a Sua Excelência foi de uma criatividade inusitada para o meio. Guardo preocupação com a sugestão que ele lançou para muitos dos senhores políticos brasileiros, quando se justificou que esse crescimento foi em função dos presentes que ganhou do povo, interrogando inclusive: “Que culpa tenho eu?” E acresceu: “Se o povo vai me presenteando e presenteando, o patrimônio vai seguir aumentando”. É claro que foi realmente presente do povo, quando nele votou, fazendo-o ganhar a presidência, mas desfaçatez chega às raias do risível se não fosse o cinismo que caracteriza certos políticos, a ponto de gerar uma indignação sem paroxismo. Se virar moda por aqui essa desculpa, valha-me, Deus.
 
Infelizmente, no entanto, somos levados a aceitar que realmente cada povo tem o governo que merece, pois em verdade todos que elegemos representam um naco da sociedade, do que somos, pensamos e concordamos. Lembro-me que uma pesquisa feita pelo Ibope na época da explosão do mensalão reportava até que ponto as pessoas são coniventes com a corrupção e se elas praticariam as mesmas ilicitudes se estivessem no lugar dos políticos. Foi um resultado lamentável, pois revelou o quão tolerante e corrupta é grande parte da população (75% dos entrevistados), e mais ainda, essa maioria revelou na pesquisa que faria a mesma coisa se estivesse no poder. Concluímos, portanto, que de fato, os políticos são um reflexo, uma parcela da nossa população.
 
Isso ficou patente quando um programa de televisão interativo, Você Decide, da Rede Globo, entre 1992 e 2000, que tratava do assunto “seguir a ética ou levar vantagem da oportunidade”, em avaliação, a votação do público, não raramente, era no sentido de se aproveitar da chance e tirar proveito em benefício próprio, independentemente de prejuízo causado a terceiros, ou mesmo de prática de algum ilícito, pois é...
 
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz

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