quarta-feira, 4 de janeiro de 2012


Lá atrás, por volta do ano 2000, um orador espírita em informal conversa, onde eu estava, disse que achava que Chico Xavier deveria não mais aparecer em público, pois as pessoas poderiam questionar acerca da proteção espiritual dele. Ficou ali clara a ideia de que os médiuns precisam passar a imagem de infalibilidade, de proteção fora da realidade, ou seja, privilégio de proteção, distinção, mais uma vez ficou patente a comum tentativa de religiosos, de uma forma geral, de passarem a sua “patente” de semideuses, protegidos mais que qualquer um ser mortal comum.

Isso é tão velho, que se encontra lastrado desde o antigo Egito e ainda há os que pensam que podem continuar com a mesma fantasia. Ora, ora, somos todos iguais, em papéis diferentes, mas seguindo a caminhada sob o regime de justiça e direitos divinos absolutamente sem qualquer prerrogativa.

Por conta dessas distorções e insinuações nesse sentido, vemos uma distorção doutrinária extravagante e sem qualquer respaldo na lógica, no bom-senso, sendo aceita como verdade pelos iludidos de boa-fé que sentem necessidades de criar mitos e semi-deuses para seguirem.

Recentemente, por exemplo, o distinto Raul Teixeira sofreu um lamentável acidente vascular cerebral isquêmico em voo para os Estados Unidos, onde iria fazer inúmeras conferências espíritas. Raul é muito querido pela sua simplicidade, acessibilidade e dedicação à causa espiritista, mas, por conta dessa imagem equivocada de super-heróis, super-protegidos que se tem sobre os médiuns, recebi inúmeros e-mails e mensagens pelas redes sociais questionando sobre a presença, aviso dos espíritos para o querido médium, uma vez que ele é dedicado trabalhador. Nunca soube que Raul pregasse ou insinuasse qualquer coisa que se levasse a concebê-lo como especial, privilegiado. Nunca.

No inconsciente espírita, no entanto, essa imagem é forte, que precisa ser quebrada, pois totalmente mentirosa. Cada um de nós tem o seu próprio processo de vida, dentro dos reajustes a que nos propusemos antes do nosso reencarne, e, se estivermos em sintonia com os valores do conhecimento médico, seguiremos a nossa caminhada prevenindo, tratando de forma natural, como todo mundo.

Se houve a alguém algum privilégio o que pensaríamos da vida de Irmã Dulce e as suas dores físicas? E o atentado à sua vida, que o Papa João Paulo II sofreu? E a forma pela qual Gandhi morreu? Assassinado. São espíritos-referência de bondade e dedicação à causa do amor ao próximo.

Chico nos deu este exemplo, de uma vida profícua, comprometida, cheia de dores, mas em total fidelidade ao trabalho.

Não existem milagres, nem o sobrenatural em regime de privilégio a ninguém, o que há, sim, são pessoas em sintonia com o Bem, recebendo as inspirações para novas atitudes, tomada de caminhos novos, mas que cada um seguirá se quiser, pois, afinal de contas, temos o livre arbítrio.

JOSÉ MEDRADO É MESTRE EM FAMÍLIA PELA UCSAL E FUNDADOR DA CIDADE DA LUZ

6 comentários:

Renato de Camaçari disse...

Medradão,

Realmente, isto existe muito. Até mesmo simples espíritas que trabalham no passe já pensam que têm proteção superior. Lamentáveis enganos de compreensão da base doutrinária.

Zara disse...

Medrado, esse seu post é muito interessante por causa de uma situação q eu e meu marido passamos: frequentamos um centro e em nov/2011 sofremos um acidente de carro grave, mas, do qual saímos ilesos, graças a Deus! Nos primeiros momentos depois do acidente, ficamos chateados por acharmos que, pelo fato de estarmos trabalhando num centro espírita, deveríamos ter tido "maior proteção previlegiada", sabe?
Que prepotência nossa! Depois de muito refletir sobre o assunto e recebermos esclarecimentos, hoje sabemos que não é assim que funciona, vc está certo, somos todos iguais, nunca podemos achar que temos proteção previlegiada por estarmos envolvidos com alguma causa ligada à espiritualidade. Hoje agradecemos a Deus por termos nos salvado, temos sim proteção, nós é que as vezes não enxergamos! Um abraço Medrado, vc é demais! Assisti sua palestra de 10/01/12 pela 1ª vez e não perco mais!

Zara disse...

Medrado, bom dia!
Esse seu post é muito interessante por causa de uma situação que eu e meu marido passamos. Nós somos trabalhadores num centro espírita e recentemente sofremos um acidente de carro grave, mas, do qual saímos ilesos, graças a Deus!
No primeiro momento ficamos chateados achando que deveríamos ter tido "proteção previlegiada ou algum aviso do que poderia acontecer". Que prepotência nossa!
Mas, depois de muito refletirmos e obter esclarecimentos sobre o acontecido, hoje temos consciência que não é sssim que funciona, nós não somos previlegiados pq trabalhamos em alguma causa ligada à espiritualidade, somos todos iguais! Vc está muuuito certo!
Hoje temos consciência e adradecimento a Deus por ter nos salvado sem sequelas! Temos proteção sim, nós é que com nosso egoísmo, as vezes, não enxergamos.
Assisti sua palestra em 10/01/12 pela 1ª vez e não perco mais! Vc é ótimo! Obrigada.

Unknown disse...

Ricardo Serpa - Lauro de Freitas
Muito pertinentes as ponderações do post acerca de suposta EXTRA PROTEÇÃO que os servidores de uma Casa Espírita ou de qualquer Centro Espiritual teriam ao seu dispor.
De fato, sempre há variadas extrapolações e distorções na interpretação daquele que não se instrui devidamente nas obras doutrinárias.
Uns,por vezes, destratam a filosofia espiritualista,por temor do que,em verdade,sequer se dispõem a conhecer.Outros chegam a absurdos,afirmando poderes e proteções suprarreais de que irmãos servidores da Fraternidade Pura gozariam em função de sua atuação e de sua dedicação aos auxílios de sua mediunidade. Confesso preferir o ensinamento que recebi em minha formação na Casa de Francisco de Assis - Laranjeiras - RJ.
O médium deve,antes de tudo, ser um obreiro do Bem e da Fraternidade; o resto lhe virá por acréscimo, como, afinal, a todos é concedido pela Justiça Superior.
Saudações fraternas de Ricardo Serpa.

Diego Curvelo disse...

Que texto sensato! Muito bom mesmo.
Abraços, Diego Curvelo.
Obs. Na verificação de palavras abaixo, veio escrito "bentou", e não pude deixar de pensar que você arrebentou, no bom "baianês"!

Fernando disse...

Oi Medrado.

Sobre este assunto, um episódio interessante registrado na biografia de Chico Xavier:

Quando ele pediu que Emmanuel o curasse da vista, com o objetivo de trabalhar mais e produzir mais livros recebeu a seguinte resposta:

"Sua condição não exonera você da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício, como acontece às outras criaturas. Se nem o Cristo teve privilégios, por que você os teria?"