Lá atrás, por volta do ano 2000, um orador espírita em informal conversa, onde eu estava, disse que achava que Chico Xavier deveria não mais aparecer em público, pois as pessoas poderiam questionar acerca da proteção espiritual dele. Ficou ali clara a ideia de que os médiuns precisam passar a imagem de infalibilidade, de proteção fora da realidade, ou seja, privilégio de proteção, distinção, mais uma vez ficou patente a comum tentativa de religiosos, de uma forma geral, de passarem a sua “patente” de semideuses, protegidos mais que qualquer um ser mortal comum.
Isso é tão velho, que se encontra lastrado desde o antigo Egito e ainda há os que pensam que podem continuar com a mesma fantasia. Ora, ora, somos todos iguais, em papéis diferentes, mas seguindo a caminhada sob o regime de justiça e direitos divinos absolutamente sem qualquer prerrogativa.
Por conta dessas distorções e insinuações nesse sentido, vemos uma distorção doutrinária extravagante e sem qualquer respaldo na lógica, no bom-senso, sendo aceita como verdade pelos iludidos de boa-fé que sentem necessidades de criar mitos e semi-deuses para seguirem.
Recentemente, por exemplo, o distinto Raul Teixeira sofreu um lamentável acidente vascular cerebral isquêmico em voo para os Estados Unidos, onde iria fazer inúmeras conferências espíritas. Raul é muito querido pela sua simplicidade, acessibilidade e dedicação à causa espiritista, mas, por conta dessa imagem equivocada de super-heróis, super-protegidos que se tem sobre os médiuns, recebi inúmeros e-mails e mensagens pelas redes sociais questionando sobre a presença, aviso dos espíritos para o querido médium, uma vez que ele é dedicado trabalhador. Nunca soube que Raul pregasse ou insinuasse qualquer coisa que se levasse a concebê-lo como especial, privilegiado. Nunca.
No inconsciente espírita, no entanto, essa imagem é forte, que precisa ser quebrada, pois totalmente mentirosa. Cada um de nós tem o seu próprio processo de vida, dentro dos reajustes a que nos propusemos antes do nosso reencarne, e, se estivermos em sintonia com os valores do conhecimento médico, seguiremos a nossa caminhada prevenindo, tratando de forma natural, como todo mundo.
Se houve a alguém algum privilégio o que pensaríamos da vida de Irmã Dulce e as suas dores físicas? E o atentado à sua vida, que o Papa João Paulo II sofreu? E a forma pela qual Gandhi morreu? Assassinado. São espíritos-referência de bondade e dedicação à causa do amor ao próximo.
Chico nos deu este exemplo, de uma vida profícua, comprometida, cheia de dores, mas em total fidelidade ao trabalho.
Não existem milagres, nem o sobrenatural em regime de privilégio a ninguém, o que há, sim, são pessoas em sintonia com o Bem, recebendo as inspirações para novas atitudes, tomada de caminhos novos, mas que cada um seguirá se quiser, pois, afinal de contas, temos o livre arbítrio.
JOSÉ MEDRADO É MESTRE EM FAMÍLIA PELA UCSAL E FUNDADOR DA CIDADE DA LUZ