sexta-feira, 29 de maio de 2015

Leia e pense, se quiser
(29.05.2015)

Gosto de provocar as pessoas para pensarem, talvez pelo que curso de Filosofia que tenho, talvez por ter fundado uma instituição aos 17 anos, e agora com 54 já vi e ouvi dramas de todas as naturezas, ou simplesmente porque gosto de fazer gente pensar. Aprendi, assim, que toda proposição discursiva nasce de três princípios: tese (a ideia básica), antítese (fatos contrários) e a síntese (conclusão). Então, quando alguém lança uma tese, erramos, como interlocutores, se focarmos na pessoa emissora, porque aí entrará a antipatia (se temos algo contra o lançador), simpatia (quando o lançador nos é caro), pois e o ideal será sempre a empatia, no foco do fato. A empatia é se colocar no lugar do vivenciador da história. Em Filosofia é isto que se chama processo analítico, reflexivo de uma ideia. Infelizmente, em geral, metemos os pés pelas mãos e deixamos contaminar as nossas reflexões com o passional destas questões e não pautamos a razão para contextualizar o problema e gerar a empatia. É, em síntese, a máxima de Cristo “faça ao próximo o que gostaria que ele lhe fizesse”, pelo menos no possível, posto que o ideal de assim agir é complicado. Passaríamos a viver melhor conosco e com os que estão no nosso em torno se tivéssemos este cuidado. Vejo muito pelas redes sociais esta falta de critério nas discussões, aí imagino que na vida privada das pessoas deve ser até pior rs.


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Respeito e aceitação
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 27.05.2015)

O Instituto Beneficente Conceição Macedo teve uma inspirada ideia: em gesto de respeito, organizou um culto inter-religioso para abençoar transexuais que proclamariam para os presentes os seus nomes sociais. Claro que aceitei de pronto o convite, pois compreendo que não há como vivenciar qualquer fé sem respeito e fraternidade ao próximo, seja ele que orientação sexual, cor, ideologia tiver. Assim, no dia 19 último, fui ao centro cultural da Barroquinha para a celebração. Cheguei alguns minutos mais cedo e fui visitar o museu da Igreja de São Bento, espetacular. Ao sair pude presenciar uma transexual indo para o evento e um grupo de rapazes, na ladeira de acesso, tentar, jocosamente, ridicularizar a moça. 

Pus-me a questionar: como entender o porquê de as pessoas guardarem preconceitos com tanto rancor, raiva, a ponto de não aceitarem o outro porque foge aos seus padrões e convenções, sociais, familiares e/ou religiosos tidos como certos? Algumas pessoas já tinham me perguntado se realmente eu iria estar naquilo. Naquilo?! Naquilo o quê? No respeito à cidadania de quem quer ser o que de fato é, na coragem de assumir a sua identidade de alma? Se você não entende esses corações, respondia, tudo bem, até compreendo, mas respeite. Principalmente se a pessoa se diz religiosa, cristã... Cristo não discriminou, não excluiu. Ele trazia para perto. Fui e me emocionei com aquelas histórias de dor, de angústia, de busca de reconhecimento de suas identidades. 

Em uma sociedade que prima pela hipocrisia, no mínimo esses homens e mulheres deveriam ser reconhecidos pela coragem do encontro com a sua natureza e essência. O moral e o ético estão em ações e não em estética, em aparência, em discursos cheios de recalques e ignorância. Recentemente, a sociedade reagiu a um beijo lésbico na TV, mas não, em geral, se manifestou diante de cenas de corrupção, assassínio que a mesma novela patrocinou. Vá entender esta sociedade que aceita a bandidagem, mas repudia um gesto de amor.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Perseguições de sempre
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 13.05.2015)

A Cidade da Luz tem recebido algumas homenagens, por força da dedicação de centenas de pessoas que por lá mourejam, mas na última quarta uma em especial falou ao meu coração, foi a Yom HaShoá, Dia da Lembrança do Holocausto. A Sociedade Israelita da Bahia, através do seu presidente, Luciano Fingergut, e do rabino Uri Lam, me honrou e a Cidade da Luz com a distinção “Instituição de expressiva atividade na área de justiça social”, simbolizada com a plantação de árvores no Bosque Brasil, região de Modiin, em Israel, com o nome da Cidade da Luz e o meu. Essas mudas representam quem atua na área social e que, portanto, luta pela vida através da dedicação aos menos favorecidos.

A emoção me dominou, principalmente quando, em ato simbólico, alguns representantes da comunidade judaica baiana eram chamados para acender uma das velas representando os seis milhões de judeus assassinados durante a segunda guerra mundial e transbordou quando o Sr. Peter Ungar veio acender uma delas. Fui, então, informado que aquele senhor era o único sobrevivente na Bahia de tal sanha. Relembrei que tais mortes por perseguição aos judeus somam duas vezes a população de Salvador, além de ciganos, homossexuais e portadores de necessidades especiais.

A reflexão do Yom HaShoá deve ser algo permanente em nossos dias, pois o fundamentalismo ideológico de toda natureza é sempre perverso e busca o caminho do extermínio aos que se tornam contrapontos a ideias alienantes, diversas daquelas que grupo ou pessoas defendem. É preciso atenção e cuidado diante do que vemos nessa direção em nosso país, onde ainda o candomblé é achacado e perseguido, homossexuais abatidos e pessoas com necessidades especiais estigmatizadas. São direitos violados por incitação, ora religiosa, ora preconceituosa ou por interação de ambas, geralmente com a complacência da sociedade, que não reage, pois não são os seus interesses e/ou posição incomodados.