quarta-feira, 18 de março de 2015

Educação e Conquista
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 18.03.2015)

Elite burguesa? Não sou. Ainda que muitos tentem deturpar conceitos e confundir a realidade dos fatos. Assim, permita-me, caro leitor, um rápido perlustro autobiográfico, a fim de justificar a negativa na abertura deste artigo: 

Nasci e fui criado na Ladeira da Preguiça, no tempo da Rocinha dos Marinheiros; diante de dificuldades, até de sobrevivência, com 10 anos comecei a lavar carros, para ganho, na Fonte dos Padres, na Mauá; aluno de escola pública, do Colégio da Polícia Militar, aos 15 anos, indicado pela direção da escola para prestar concurso, a fim de ser menor aprendiz do Banco do Brasil – convênio que existia entre o Poder Público e o banco para menores carentes da rede pública que se destacassem no rendimento escolar. Passei.

Trabalhei até quase os 18 anos; aos 17 fundei o que é hoje o Complexo Cidade da Luz, que realiza cerca de 200 mil atendimentos sociais ao ano; aos 20 anos fiz concurso para a Justiça do Trabalho; mais tarde fiz outro concurso para galgar nível superior; minha primeira graduação fiz com apoio do governo, através de crédito educativo – já existia este apoio.

Pois bem, apostei na educação, busquei este viés com luta e dificuldades. Assim, quando vejo o meu país ser abatido pela corrupção, quando reclamo de incoerências e mentiras governamentais, não aceito a alcunha genérica de elite burguesa, de forma alguma. Gostaria de conhecer a forma de vida dos que conceituam os insatisfeitos como elite burguesa. Até conheço alguns que moram bem, vivem bem. Têm o direito, se conquistaram com trabalho.

No entanto, por favor, apostar na educação, lutar, crescer é sinonímia de burguesia, então qual seria o caminho? Ser corrupto? Sou contra o impeachment da presidente, que foi eleita lidimamente, e nada há contra ela. Não sou de lados, mas como dizia uma faixa no protesto em São Paulo: “Não sou de direita, mas sou um brasileiro direito”. É simples assim – todos somos iguais perante a lei, em direitos e deveres.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Fanatismo Político
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 04.03.2015)

Temos visto por todos os lados uma guerra de cores partidárias, envolvendo ataques e defesas dessa ou daquela agremiação política. É notória, assim se depreende, a fuga do foco de uma visão de pátria, para atitudes fanáticas, estribadas, em geral, pelo unilateralismo da paixão, da intransigência perigosa. A professora Ana Lucia Santana afirma que os fanáticos são geralmente prisioneiros de suas obsessões, sejam elas um Deus, um líder político, uma causa utópica ou uma fé inquestionável, em desuso da razão, da lógica. Assim, não importa o que defender, mas defender, combater o contrário sem qualquer tipo de sensatez.

O fanático se debruça sobre o que o seu líder (ou líderes) lhe propõe e passa a amar e odiar cegamente o que se opõe a tais "verdades", pois a sua cegueira cognitiva é o que estimula a chama de suas crenças. A visão se torna estreita e naturalmente surge a filosofia do maniqueísmo, onde se não está de um lado está do outro, logo precisa de combate. Ultimamente estamos vendo o fanatismo político crescendo no Brasil, como se fosse uma religião. Foge-se do ponderável e desemboca-se no plano das falácias e das "certezas" irretorquíveis, do autoritarismo, de uma linguagem agressiva, que intimida e nunca põe os seus princípios sob o crivo da análise racional, por todos os lados são verdades e mentiras em conluio.

Vemos, assim, a política nacional com as cores azul e vermelha em disputa de apropriação de bons feitos e pechas de desmandos. A verdade é que há gente desonesta e séria por todos os lados. As discussões não podem ser restritas e apequenadas a duas perguntas básicas: Quem roubou mais? Quem fez mais? Ora, veremos coisas boas ou não por este ou aquele prisma. Mas o momento é de se fechar pelas cores que ostentam um lábaro estrelado. Agora você, leitor, estará me pintando com esta ou aquela cor, mas o que sou é brasileiro e a verdade é como disse Nietzsche: “O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos.”