sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Destino ou fatalidade? 
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 20/08/2014)

A morte de Eduardo Campos chocou o país, mais uma vez a perplexidade recai sobre o inexorável da vida: o morrer. Neste momento, cada um externa os seus simbolismos, representações e interpretações acerca da morte muito particularmente, geralmente carregados de vivência, experiências, religião... e neste último aspecto enxameiam de questionamentos o público, de um modo geral, se foi fatalidade ou destino, uma vez que, defendem muitos, nada acontece por acaso? 

O certo é que vivemos em um mundo onde estamos sujeitos a tudo a qualquer momento, logo é verdade que nada acontece por acaso, não por fatalismo, ou destino, mas por propensão de ambiência. Não há de se falar em destino, como algo pré-estabelecido, uma vez que não somos marionetes em mãos de sei lá quem para o que for. O estar neste mundo envolve riscos, escolhas, com consequências de perdas e ganhos. Nesta vida, cada decisão nos leva a determinadas vitórias e ou fracassos, expondo-nos a situações de perigo em determinadas direções mais do que em outras. 

O mundo ocidental transformou a morte em tabu, onde ela não pode fazer parte das conversas, é preciso evitar o desconforto da certeza da finitude biológica. O medo vira pânico, pois sobrevém a certeza de que tudo é passageiro, absolutamente tudo. "Enquanto os homens exercem seus podres poderes" por toda parte e lados, desde o núcleo familiar até os cimos dos que se julgam condutores de vidas, sem a compreensão de que nada é para sempre, a ideia de morte ainda vai trazer o vazio da angústia, da aflição de um dia deixar de ser, na razão direta da ilusão de que somos o que temos, ou aparentamos ter, em uma guerra exaustiva de apenas satisfazer desejos, de sobrepor uns aos outros por força dos papeis que exercemos no momento.

Tenhamos a certeza que tudo é um ciclo: viver e morrer, então vivamos cada vez mais alargando o sentido de nossa vida, não deixando para arrumar a mala no último hausto do existir, pois nunca se sabe quando será.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sentimento virtual 
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 06/08/2014)

Após o último artigo que escrevi aqui sobre o excesso da comunicação virtual, inclusive com as pessoas presentes na mesma casa, recebi alguns e-mails com situações inusitadas dentro deste contexto. Então me pus a observar.

Publiquei um pequeno texto em uma das redes sociais e fiquei surpreso com as centenas de pessoas que opinaram e compartilharam favoravelmente. Ou seja, está, de fato, havendo um incômodo do excessivo viver virtual. Eu relatava que almoçava em um shopping e me chamaram a atenção as pessoas no entorno que, nas mesas, comiam e, ao mesmo tempo, digitavam um, dois até três celulares... nem olhavam para o prato. Fui então prestando atenção mais e mais aos que passavam... caminhavam digitando, desciam escada, alguns sozinhos, outros em grupo e sempre digitando nos seus smartphones... não olhavam nada em volta. As pessoas estão perdendo o prazer das coisas simples da vida, para estarem mais alertas e ansiosas aos apitos das postagens nas redes sociais.

Não sou concorde, claro, com o que disse Chaplin no seu célebre discurso em O último ditador de que, "mais do que máquinas, precisamos de humanidade". De forma alguma, seria tentar reter o inexorável, mas por que não associamos as possibilidades digitais para realmente sermos mais próximos? Por que a tecnologia tem que ser excludente da humanidade, substituindo o falar, o sentir por figuras? Por que precisamos ser possuídos e não possuir as tecnologias?

Recupere o prazer de estar com amigos pessoalmente. Não poste foto de comida, convide para comerem juntos. Não apenas compartilhe, mas vivencie a presença dos amigos, mesmo colegas de almoço, ainda que seja para falar abobrinha. Falar bobagens também pode dar prazer. Viva mais o seu em volta, prestando atenção às pessoas que passam, às formações das nuvens, à ressaca do mar... olhe mais para o mundo, para a vida e menos para o seu smartphone, pelo menos em determinados momentos. O seu celular pode estar sendo um perigoso vício.

domingo, 3 de agosto de 2014

O tal dia do amigo.
(Coluna Opinião - Jornal A Tarde - 30/07/2014)

No último domingo meu celular apitou algumas vezes com mensagens de pessoas me desejando feliz dia do amigo, nem lembrava. Algumas mensagens de fato eram pessoais, outras eram apenas repetidoras do tal copiar e colar geral, que se faz nesses celulares, que eu não tenho a menor ideia de como é feito, mas é algo que vai para todo mundo que está na sua lista de telefone.
Apenas de valor protocolar. 

Aristóteles dizia que a amizade "é uma alma em dois corpos", mas notamos que esta alma parece que não anda muito a fim de se dividir. Nestes dias de redes sociais e celulares de última geração, as pessoas não têm se dado ao trabalho de buscar, de conversar, pois é um tal de curtir e compartilhar sem mesmo ter noção do que faz. O chavão é real: com tanta facilidade de se comunicar, as pessoas estão tão distantes.

Recentemente, estava em casa de uma amiga, onde o filho, do quarto, mandou um whatsapp informando que não iria jantar conosco. Eu observava, ela respondeu: “OK”. Tudo de uma forma tão natural, que me choquei comigo mesmo, pois para mim nada daquilo soava natural, ainda que muito tecnológico.

Será que de fato as emoções do século XXI só serão as passadas pelos aparelhos? Será que as pessoas se sentem felizes e preenchidas com essa forma nova de se relacionar? Essas ferramentas são ótimas, claro, mas penso que não substituem os apertos de mãos, os abraços, os beijos.

Essas figurinhas representativas de afetos e sentimentos, os tais "emoticons" não podem substituir uma palavra dita, uma emoção passada com verdade. Ou talvez eu é que esteja no passado, mas ainda penso que tudo pode ser usado, sem, no entanto, desprezar o contato, o real. 

A tecnologia talvez tenha nos tornado mais protocolares e cada vez menos amoráveis, pois o que vale será sempre o rápido, o instantâneo, pois não temos tempo a perder como pessoal. Ficamos no virtual, pois pode dissimular, inventar, mentir e não tem o olho no olho. Mas é isso: está sendo assim e continuará.